DOM ENRICO JOSEPH CARDEAL MONTINI
Cardeal-Bispo di Albano, Arcebispo Primaz de Aparecida
Prefeito do Dicastério para os Bispos
Exortação do Dicastério para os Bispos
'Munus Episcopalis'
da importância do Múnus Episcopal,
e da conservação da Sucessão Apostólica dos Bispos
Aos estimados irmãos Bispos, presbíteros e diáconos, saúde, paz e misericórdia do Senhor.
Proêmio
Veneráveis irmãos no Episcopado, como sucessores dos Apóstolos, fostes chamados ao mais alto serviço na Igreja de Cristo, para vos tornardes "pastores do rebanho" (1 Pedro 5,2), guardiões da fé e testemunhas vivas do Evangelho de Nosso Senhor. É com reverência e gratidão que nos dirigimos a vós, movidos pelo desejo de reafirmar a grandeza e a responsabilidade do Munus Episcopal, o ministério ao qual fostes ordenados, e de ressaltar o compromisso necessário com a comunhão colegial, a unidade ao Santo Padre, e a vivência ativa de vosso ministério para o bem do Corpo de Cristo, a Igreja.
O Munus Episcopal:
Uma Vocação para o Serviço
O episcopado é um dom e uma tarefa sublime, que se manifesta em três dimensões principais: o magistério, o ministério pastoral e a santificação. Segundo o Código de Direito Canônico, "pela consagração episcopal e pela comunhão hierárquica com o chefe e com os membros do Colégio, recebe-se o múnus de ensinar, santificar e governar, que, pela própria natureza, só pode ser exercido em comunhão hierárquica com a Cabeça e com os membros do Colégio" (CDC, cân. 375, §2).
Neste sentido, o Bispo é chamado a ensinar com autoridade, a santificar o povo de Deus mediante a celebração dos sacramentos e a guiar a Igreja em espírito de pastoreio, de serviço e de amor. Lembremo-nos das palavras de Jesus Cristo: "Quem quiser ser o primeiro entre vós, seja o servo de todos" (Mc 10,44). Tal é o chamado de cada um de vós: ser um reflexo de Cristo, Pastor Supremo e Pastor das ovelhas, vivendo em plenitude a caridade pastoral que vos foi confiada.
Comunhão Colegial:
Unidade e Colaboração
O episcopado não é um ministério isolado; é uma realidade que encontra sua plenitude na comunhão colegial. O Concílio Vaticano II nos recorda que "o Colégio dos Bispos, unido com o seu chefe, o Romano Pontífice, e nunca sem ele, é também sujeito de supremo e pleno poder sobre toda a Igreja" (Lumen Gentium, 22). Esta colegialidade manifesta-se nas conferências episcopais e nas demais estruturas de cooperação pastoral, que servem como testemunho de unidade entre os bispos e são instrumentos eficazes para a promoção da caridade, da verdade e do bem comum da Igreja.
A colaboração entre os bispos é um testemunho indispensável de unidade para o rebanho de Cristo, pois, como o próprio Senhor orou: "Que todos sejam um, como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti" (Jo 17,21). Nesta comunhão, o Colégio Episcopal encontra sua força, e cada um de seus membros é chamado a colaborar de forma ativa e fraterna, num espírito de abertura e de apoio mútuo, para que o Evangelho seja proclamado com coragem e vigor em cada canto da terra.
A Unidade ao Romano Pontífice:
Princípio de Unidade e de Serviço
A união dos Bispos ao Santo Padre, o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, é uma dimensão essencial e indissociável do episcopado. "Este ministério de Pedro na Igreja universal é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade dos bispos e de todos os fiéis" (Catecismo da Igreja Católica, 882). O Papa é o sinal visível da unidade na fé e na caridade, e o seu ministério de liderança e de serviço é expressão viva da promessa de Jesus: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18).
É em comunhão com o Papa que o bispo exerce seu ministério de maneira plena e autêntica, pois como ensina o Concílio Vaticano I, "a jurisdição do Romano Pontífice é ordinária e imediata, tanto sobre todas as igrejas como sobre cada uma em particular, bem como sobre todos e cada um dos pastores e fiéis" (Pastor Aeternus, 3). Esta obediência filial ao Papa não é apenas um dever, mas um ato de amor, de fidelidade e de comunhão com toda a Igreja, que se une na mesma fé e no mesmo amor que tem sua origem no próprio Cristo.
O Episcopado na Vida Ativa da Igreja:
Um Chamado à Santidade e ao Serviço
O episcopado é, sobretudo, um chamado à santidade. "Sede santos, porque Eu sou santo" (1 Pd 1,16), assim nos chama o Senhor. O bispo deve ser um modelo de santidade, de humildade e de integridade para o seu povo, conduzindo o rebanho de Cristo com uma vida exemplar que testemunhe a beleza e a verdade do Evangelho. Em cada diocese, o bispo é a "imagem viva" do Cristo pastor, aquele que apascenta o seu rebanho, que conhece as suas ovelhas e que é conhecido por elas (cf. Jo 10,14).
A vida ativa do bispo na Igreja é também expressão da caridade pastoral, que se traduz na atenção e no cuidado aos mais necessitados, na promoção da justiça e da paz, e na defesa da dignidade humana. Cada ação, cada palavra e cada decisão do bispo devem ser guiadas pelo bem de sua diocese e da Igreja universal, sempre em comunhão com seus irmãos no episcopado e com o Santo Padre.
Um Apelo à Fidelidade
e ao Amor pelo Rebanho de Cristo
E eu, ao findar esta exortação estendo um chamado à renovação da vossa consagração ao serviço de Cristo e de sua Igreja. Que cada bispo viva o seu ministério como um testemunho de fidelidade e de amor, lembrando sempre as palavras do Senhor: "Quem vos recebe a mim recebe, e quem me recebe recebe Aquele que me enviou" (Mt 10,40). Lembrai-vos também de que "os pastores devem conhecer e seguir os seus bispos, pois os bispos foram instituídos para governar a Igreja de Deus" (Catecismo da Igreja Católica, 896).
Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, interceda por todos os bispos para que, fortalecidos pelo Espírito Santo, possam ser luz e guia para o povo de Deus, perseverando na fidelidade ao Evangelho e na unidade da Igreja.
A todos os irmãos na comunhão colegial, recebam minha afetuosa e sincera saudação e abraço.
Aparecida, no Paço Episcopal D. Raymundo Assis, aos 31 dias do mês de outubro do ano da encarnação do Senhor de 2.024.
Cardeal-Bispo di Albano