Regina Cæli | Ascensão do Senhor (01/06) - João Paulo IX

REGINA CÆLI
01 de Junho de 2025
Praça de São Pedro, Vaticano
Papa João Paulo IX
Jubileu das Comunicações Sociais,
Ascensão do Senhor

Amadíssimos irmãos e irmãs, boa tarde!

Neste domingo tão rico de significados — litúrgicos, sociais e espirituais — a nossa oração do Regina Caeli eleva-se com particular intensidade e emoção.
A liturgia deste dia leva-nos a contemplar um dos maiores mistérios da nossa fé: a Ascensão do Senhor ao Céu.

Cristo, depois de ter vencido a morte, de Se ter manifestado ressuscitado aos discípulos, elevou-Se ao Céu diante dos seus olhos atónitos. Aquele que desceu até aos abismos da nossa condição humana, agora é elevado na glória, levando consigo a natureza humana que assumiu no seio da Virgem Maria.

Hoje, a nossa carne está no Céu.
Hoje, o Filho do Homem abre a porta do Alto à humanidade inteira.
Hoje, o Céu deixa de ser um lugar distante e torna-se uma promessa concreta, viva e presente.

A Ascensão de Jesus, meus irmãos, não é um afastamento.
Não é ausência.
É presença transformada. É uma presença que já não está limitada pelo tempo e pelo espaço, mas que se faz íntima, espiritual, perfeita na comunhão dos corações.

Jesus não nos deixa órfãos.
Antes de subir, abençoa-nos. E essa bênção é permanente.
Ele parte, mas para nos preparar um lugar. Ele parte, mas para nos enviar uma missão.
“Sereis minhas testemunhas até aos confins da terra” — diz Ele. E em seguida, Elevo-Se ao Céu.

A Ascensão é, portanto, o envio da Igreja em missão.
Missão essa que é a razão do nosso ser, da nossa presença no mundo.
Hoje, cada batizado é chamado a ser testemunha da ressurreição, a proclamar com a vida, com os gestos, com as escolhas e as palavras, que Cristo vive e que o Reino de Deus está entre nós.

Mas, para isso, é preciso antes de tudo reconhecer com humildade e verdade o que somos e o que temos.
E aqui, irmãos e irmãs, quero abrir convosco um caminho de meditação profunda.

A Gratidão, virtude esquecida
Vivemos tempos de abundância, tempos de acesso, tempos de liberdade.
E no entanto, quantas vezes esquecemos de agradecer!
Quantas vezes murmuramos contra aquilo que nos falta, enquanto ignoramos o imenso dom daquilo que já possuímos!

Somos um povo que se esquece de agradecer.
Esquecemo-nos de agradecer pela fé, pela saúde, pelo pão, pelo lar, pela paz.
Vivemos distraídos, constantemente em busca de mais, enquanto tantos, ao nosso lado e nos confins da terra, dariam tudo para ter o mínimo.

Há irmãos nossos que vivem em ruínas, não por causa de desastres naturais, mas de injustiças humanas.
Há quem não tenha onde dormir, quem não saiba ler, quem nunca provou a liberdade, quem chora em silêncio, sem saber sequer se alguém o ouve.

Hoje, diante do Cristo glorificado, diante da Virgem Mãe que exulta no Céu, precisamos fazer um ato de contrição e de gratidão.
Contrição pelas vezes em que nos tornámos insensíveis.
Gratidão, porque apesar da nossa dureza, Deus continua a abençoar-nos.

Gratidão: esta é a linguagem dos céus.
É no coração agradecido que a graça de Deus encontra espaço para frutificar.

A missão dos comunicadores: Servidores da Verdade
Nesta mesma celebração, damos graças a Deus pelo início do Jubileu das Comunicações Sociais — um tempo de reflexão, conversão e compromisso para todos os que, de algum modo, participam no grande ministério da palavra, da imagem e da escuta.

Hoje, mais do que nunca, a comunicação é uma força que pode edificar ou destruir.
Pode levantar pontes ou erguer muros. Pode ser fonte de luz ou geradora de sombras.

A todos vós, comunicadores, repórteres, realizadores, técnicos, redatores, influencers e formadores de opinião, o Papa deixa uma exortação sincera, paternal, exigente:
Sede servidores da verdade.
Sede construtores de comunhão.
Sede anunciadores da esperança.

A tentação da manipulação, da superficialidade, do sensacionalismo, está sempre presente.
Mas vós não sois meros transmissores de conteúdos.
Vós sois semeadores de sentido. Vós sois formadores de consciências.

Que a vossa missão esteja sempre iluminada por um critério fundamental do Evangelho: a dignidade da pessoa humana.
Nunca useis uma palavra para ferir. Nunca useis uma imagem para humilhar.
Se a vossa comunicação não for portadora de verdade, não é cristã.
Se não constrói pontes, não é profética.
Se não eleva o espírito, não é digna da vossa vocação.

Durante esta semana jubilar, peço que cada um de vós se interrogue diante de Deus:
A minha comunicação serve a verdade? Ou serve o meu interesse?
As minhas palavras abrem à esperança? Ou alimentam o medo, a divisão, a indiferença?

Cristo ascendido ao Céu chama-vos a subir também na missão.
Não vivais para agradar às audiências, mas para serdes fiéis à verdade que liberta.

A oração da Igreja: Com Maria, Rainha do Céu
E agora, unidos a toda a Igreja espalhada pelo mundo, rezemos com fé o Regina Caeli, proclamando com Maria a vitória de Cristo sobre a morte.
Elevemos o nosso olhar ao Céu, como os discípulos naquele dia em Betânia, e deixemo-nos envolver pela bênção do Ressuscitado.

E agora, com alegria no coração e gratidão na alma, desejo saudar os muitos peregrinos aqui presentes, vindos de tantas partes do mundo — sinal visível da universalidade da Igreja, corpo de Cristo Ressuscitado.

Saúdo com afeto particular os irmãos vindos de Portugal:
– de Leiria-Fátima, onde o Coração de Maria tocou a terra;
– de Viana do Castelo, terra de gente forte e crente;
– de Vila Nova de Gaia, laboriosa e fiel;
– e de Portimão, onde a luz do sul reflete a luz do Céu.

Saúdo ainda os irmãos do Brasil, vinda da amada terra sul-americana:
– de São Salvador da Bahia, onde o Evangelho chegou com o ritmo da esperança;
– de Minas Gerais, montanhas de fé, barroco e devoção;
– de Mato Grosso, pulmão verde e coração missionário do Brasil profundo.
O Papa vos acolhe com carinho! O Brasil está sempre no coração do Papa!

Saúdo também os peregrinos vindos do Kongo, de vários países de África, e os corajosos irmãos da China —
Que Deus vos fortaleça na fé, vos proteja na prova e vos sustente na esperança.
A vossa presença é um testemunho precioso de fidelidade, coragem e amor à Igreja.

Hoje, enquanto chegam também os primeiros resultados das eleições do Bairro do Carmo, desejo que o Espírito do Senhor — o Espírito que Cristo prometeu enviar — ilumine os corações de todos os eleitos e dos eleitores.
Que essa escolha democrática seja expressão de serviço, de responsabilidade e de esperança para aquela comunidade local.

Queridos irmãos e irmãs, que este dia santo, em que Cristo foi elevado ao Céu, nos recorde para sempre que a nossa vida tem uma direção: o Alto. Não nos contentemos com menos do que o Céu. E levemos muitos connosco, pela palavra, pelo exemplo, pela caridade.

Desejo a todos vós um contínuo e abençoado Domingo da Ascensão e um bom jantar. Até ao próximo Domingo, se Deus quiser.
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