BONIFATIUS, EPISCOPUS
PONTIFEX MAXIMUS
SERVUS SERVORUM DEI
A todos os que esta minha CARTA lerem, saudação, paz e bênção apostólica.
Ao se completarem cinco anos desde o dia em que, pela insondável vontade de Deus e pela eleição do Colégio dos Cardeais, fui chamado ao Trono de Pedro sob o nome de João Paulo VI, elevo o meu coração em ação de graças ao Senhor, juiz da História, que sustenta a sua Igreja, e a conduz, mesmo por entre provações, à luz da ressurreição e pelas águas mais serenas.
Naquele memorável 16 de julho, festa da Virgem do Carmelo, fui revestido com o peso doce e tremendo do múnus petrino. Jamais esquecerei o silêncio que tomou conta do meu espírito naquele momento. Como quem sente, ao mesmo tempo, a pequenez do homem e a grandeza do chamado, prostrei-me interiormente diante do Senhor, consagrando todo o meu ser à Igreja, ao povo de Deus e à Senhora do Monte Carmelo, a quem sempre confiei o rumo do meu coração e do meu ministério.
O pontificado de João Paulo VI — que hoje contemplo como um oásis e com saudade — foi sem dúvida um tempo de intenso labor, de cruzes silenciosas e os momentos inesperados. A Igreja atravessava, então, um momento de cisão, de incompreensões dolorosas, de vozes desencontradas que ameaçavam romper o laço invisível da unidade. Mas, com a firmeza que vem do Espírito Santo, e com a oração de toda a igreja, fomos capazes de permanecer fiéis à tradição viva da Igreja, e ao mesmo tempo abrir janelas ao Espírito para que novos ventos soprassem sobre Ela.
Recordo com emoção os trabalhos dos Livros Litúrgicos, que marcaram profundamente aquele período. Não foram estas meras mudanças, mas, uma recondução do Clero e dos leigos ao mistério da fé, à beleza do culto, ao coração pulsante da Igreja: a Eucaristia. Quantos joelhos voltaram a se dobrar, quantos corações voltaram a se inflamar! Ali percebi que a Igreja não é sustentada só por estruturas, mas pela fé viva dos seus filhos, pela oração silenciosa dos humildes, pela fidelidade dos que sofrem escondidos, e pela força inesgotável do Espírito que sopra sempre onde quer.
Foram momentos marcados por lágrimas, por noites em que o coração, exausto, só encontrava repouso no Cristo. Mas foram também tempos de esperança. Vi muitos voltarem à fé, os clérigos reencontrarem o ardor do seu primeiro chamado, a unirem-se novamente em comunhão sincera, e serem restauradas na rocha firme do Evangelho. Tudo isto, não por mérito humano, mas por pura misericórdia de Deus.
Hoje, já não sentado na Cátedra de Pedro, mas peregrino em meio ao povo, vivendo o ministério de Bonifácio III, olho para trás com o coração sereno e com lágrimas nos olhos. Não lágrimas de dor, mas de gratidão. Pois, mesmo na minha limitação, Deus quis servir-se de mim para edificar algo que é Seu.
Como esquecer a Virgem do Carmo, sob cujo olhar fui eleito, e cuja presença maternal nunca me deixou vacilar? A Ela confiei cada decisão, cada gesto, cada silêncio. E é a Ela que hoje, cinco anos depois, volto a consagrar esta memória viva, este capítulo da história que escrevemos juntos: eu, vós, e o Espírito Santo.
Meus amados filhos e filhas, se há algo que desejo deixar gravado nestas linhas, é isto: não tenham medo da Cruz. O mundo vos ensinará a evitá-la, a escondê-la, a recusar sua loucura. Mas é nela que se esconde a verdadeira força, a verdadeira liberdade, a verdadeira alegria. Quem abraça a cruz com amor, encontra o Ressuscitado. E quem encontra o Ressuscitado, nada mais teme.
Que este quinquênio não seja apenas uma data na memória, mas um convite renovado à fidelidade, à oração, ao serviço, à caridade ardente. Que cada um de vós, em sua própria vocação, possa dizer: “Senhor, usa-me, ainda que indigno, para que o mundo creia e Te ame verdadeiramente.”
A todos vós, irmãos e irmãs, concedo a minha bênção mais afetuosa e fecunda. Que a paz de Deus — que excede todo entendimento — vos guarde em Cristo Jesus, sob o olhar maternal de Maria do Carmo.
Em Cristo,