Amados filhos e filhas de Deus,
Ao celebrarmos o Dia Mundial dos Pobres, somos convidados a uma profunda reflexão sobre o nosso chamado cristão a estar ao lado daqueles que sofrem. Em cada pessoa que enfrenta a fome, a exclusão, a solidão, e a falta de recursos mínimos para uma vida digna, reconhecemos o rosto de Cristo que nos chama a segui-Lo na caridade ativa e na compaixão sincera.
A pobreza não é uma realidade distante ou alheia ao coração da nossa fé. Nosso Senhor Jesus Cristo, o próprio Deus encarnado, escolheu viver entre os pobres, caminhar ao lado dos marginalizados e excluídos, e dedicar sua vida àqueles que mais necessitavam. Como nos lembra o Evangelho de São Mateus, “Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro e me acolhestes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e viestes ver-me” (Mt 25,35-36). Jesus nos convida a vê-Lo em cada pessoa pobre, em cada necessitado que encontramos. Esse reconhecimento de Cristo nos pobres nos desafia a transcender nossa própria zona de conforto e a oferecer o que temos de mais precioso: nosso tempo, atenção e amor.
Olhando para os primeiros séculos da Igreja, vemos como os cristãos entenderam o papel central dos pobres na comunidade de fé. São João Crisóstomo, em suas pregações, ensinava: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes quando está nu. Não o honres aqui no templo com sedas, enquanto lá fora o deixas sofrer frio e nudez.” Este apelo à caridade prática e concreta continua a ressoar como uma poderosa convocação à autêntica vida cristã.
De fato, a Igreja, ao longo de sua história, sempre recordou que a caridade não é opcional para os cristãos. São Vicente de Paulo, um grande modelo de amor ao próximo, exortava-nos a “dar-se a si mesmo aos pobres como dom”, reconhecendo que o serviço aos mais necessitados é um reflexo do amor de Deus por nós. O amor cristão, dizia ele, “é inventivo até o infinito”. Este amor encontra novas formas de alcançar e aliviar o sofrimento daqueles que estão esquecidos, marginalizados ou subjugados pelas estruturas injustas de nosso mundo.
Hoje, somos chamados a ser não apenas caritativos, mas a lutar por justiça social e dignidade. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que “a pobreza humana é, além de material, moral e espiritual” (CIC 2444). Isso nos desafia a combater todas as formas de exclusão e alienação, acolhendo cada pessoa em sua totalidade. O Papa Francisco recorda-nos que “não podemos nos deixar envolver numa cultura do descarte, onde os pobres são relegados às margens da sociedade e esquecidos, sem direitos e sem voz”. Essa exclusão contradiz o Evangelho e a própria missão da Igreja, que é ser instrumento de inclusão e de amor transformador no mundo.
No entanto, irmãos e irmãs, nossa missão não termina na ajuda material. Precisamos também alimentar a esperança e a dignidade dos pobres, devolvendo-lhes a confiança e a fé na sua própria dignidade. A pobreza material pode ser uma realidade dura e desafiadora, mas a pobreza espiritual, a ausência de esperança e amor, é igualmente devastadora. Cada gesto de apoio, cada palavra de acolhimento e cada ação de justiça e amor fortalece a alma de quem sofre e lhes recorda que são amados por Deus e têm uma dignidade inalienável.
Neste sentido, São João Paulo II afirmou: “Os pobres não são um problema; são um recurso do qual devemos tirar lições para viver o essencial do Evangelho”. E isso deve nos levar a um profundo exame de consciência, perguntando-nos: até que ponto estamos verdadeiramente comprometidos em servir aos pobres e em aliviar o seu sofrimento? Como estamos usando nossos dons, recursos e tempo para promover um mundo mais justo, onde cada pessoa possa viver com dignidade?
De fato, como nos ensina o apóstolo Tiago: “A fé sem obras é morta” (Tg 2,17). Nossa fé exige que ultrapassemos as barreiras do individualismo e do egoísmo, nos doando em atos concretos de compaixão e justiça. A fé não pode ser apenas uma prática pessoal e interior; deve ser vivida na ação, na proximidade e no serviço aos outros, especialmente aos mais desfavorecidos.
A Virgem Maria, em seu cântico de exaltação, proclamou: “Depôs os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53). Com Maria, devemos aprender a humildade e a confiança no plano de Deus, comprometendo-nos com a justiça e com uma renovação de nossa sociedade para que os mais pobres e humildes sejam exaltados e amparados.
Ao concluir esta mensagem, convoco todos os membros da nossa amada Igreja a refletirem sobre seu papel no combate à pobreza em todas as suas formas. Que as comunidades paroquiais e religiosas possam se tornar oásis de acolhimento, onde os pobres se sintam valorizados e apoiados. Que sejamos, como nos disse Santa Teresa de Calcutá, “as mãos de Cristo estendidas” para aqueles que sofrem e clamam por misericórdia. Que nossa Igreja seja, verdadeiramente, a “Igreja dos Pobres”.
Que o Espírito Santo nos conduza, que nos dê força e coragem para romper as barreiras da indiferença e nos inspire a amar cada pessoa com o coração do próprio Cristo. E que todos os santos intercedam por nós, para que nossa ação em favor dos pobres seja generosa, criativa e transformadora.
Concedo minha bênção a todos aqueles que, com o coração sincero e as mãos abertas, se dedicam ao serviço aos pobres, na certeza de que “os últimos serão os primeiros” (Mt 20,16) no Reino de Deus.
Roma, no Gabinete Apostólico aos 09 de novembro do ano do Senhor de 2024, primeiro do meu Pontificado.
† ROMANO PP. II