"SERVITIUM IN GAUDIO"
DO SANTO PADRE
ROMANO II
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
PONTÍFICE MÁXIMO
SOBRE A FELICIDADE NO SERVIÇO AO PRÓXIMO E À IGREJA
Aos eminentíssimos Cardeais, excelentíssimos Bispos, Reverendíssimos Padres e Diáconos, estimados irmãos religiosos e religiosas e povo amado de Deus, saudação, paz e benção apostólica.
1. A verdadeira felicidade, buscada com tanta intensidade pelo coração humano, encontra sua plenitude no serviço amoroso a Deus e ao próximo. Como nos recorda Nosso Senhor: “Há mais alegria em dar do que em receber” (At 20,35).
2. Essa felicidade não é passageira nem superficial, mas enraizada na experiência profunda de quem vive para os outros, como Cristo viveu e nos ensinou.
3. A presente Carta Apostólica tem como objetivo refletir sobre a íntima ligação entre o serviço, a doação de si e a alegria. Desejo, com este texto, convidar toda a Igreja presente no Habblet Hotel a redescobrir a beleza do servir, que não apenas edifica o próximo, mas transforma o coração do servidor, fazendo-o participante da própria vida divina.
4. Desde o início da criação, Deus inscreveu no coração humano o desejo de felicidade. O livro do Gênesis revela que fomos criados para uma vida plena, em comunhão com Deus e com os irmãos.
5. No entanto, o pecado original introduziu a desordem no coração humano, fazendo-nos buscar a felicidade onde ela não pode ser encontrada: no egoísmo, na posse desordenada e na autossuficiência.
6. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a verdadeira felicidade consiste em ver a Deus e nele encontrar nossa plena realização” (§2548).
7. A felicidade cristã, portanto, não é um estado de satisfação egoísta, mas um movimento que nos leva para fora de nós mesmos, em direção a Deus e ao serviço do próximo.
8. Jesus, em sua vida e ministério, nos revelou que o caminho para a felicidade é o caminho do serviço. Ele, que veio “não para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45), nos convida a seguir seus passos e a encontrar na doação de nossa vida a alegria que não passa.
9. A felicidade que brota do serviço não é algo que possamos produzir por nós mesmos. Ela é um dom do Espírito Santo, que age em nós e transforma nossas ações em frutos de amor.
10. São Paulo afirma: “O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade” (Gl 5,22).
11. O serviço ao próximo não apenas beneficia quem o recebe, mas transforma quem serve.
12. Como nos ensina São João Paulo II: "O homem não pode encontrar-se plenamente a si mesmo, exceto através de um dom sincero de si mesmo" (Gaudium et Spes, 24).
13. Quando nos doamos aos outros, experimentamos a liberdade que nasce da comunhão com Deus e nos tornamos mais parecidos com Cristo, que se entregou totalmente por nós.
14. O serviço é, ainda, uma forma de evangelização. Quando servimos com amor e alegria, testemunhamos o Evangelho de forma concreta.
15. O Papa Francisco nos recorda: "A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Essa alegria é para todos, ninguém é excluído" (Evangelii Gaudium, 1).
16. A Igreja, Corpo de Cristo, é por natureza uma comunidade de serviço. Cada um de seus membros, conforme seus dons e vocações, é chamado a contribuir para a edificação do Reino de Deus.
17. Como nos recorda São Pedro: “Cada um exerça o dom que recebeu a serviço dos outros, como bons administradores da multiforme graça de Deus” (1Pd 4,10).
18. O serviço à Igreja não se limita às tarefas litúrgicas ou administrativas, mas abrange todas as formas de cuidado com a comunidade, desde o acolhimento fraterno até o zelo pelos mais pobres e vulneráveis.
19. A caridade, que é o coração da vida cristã, deve estar no centro de todas as nossas ações.
20. No contexto do Habblet Hotel, somos chamados a fazer da Igreja virtual um espaço de verdadeira comunhão e solidariedade.
21. Que cada comunidade virtual seja um reflexo da Igreja universal, onde cada membro se sinta acolhido, valorizado e chamado a contribuir com seus talentos para o bem comum.
22. Servir nem sempre é fácil. Muitas vezes, enfrentamos dificuldades, incompreensões e até mesmo desânimo.
23. No entanto, é precisamente nessas circunstâncias que somos chamados a crescer na virtude e na confiança em Deus. O Papa Bento XVI nos recorda que “o amor é exigente” (Deus Caritas Est, 16).
24. Servir com alegria exige desapego, humildade e perseverança.
25. É na superação desses desafios que experimentamos a verdadeira felicidade, que não depende das circunstâncias externas, mas da certeza de que estamos fazendo a vontade de Deus.
26. As Escrituras nos ensinam que Deus não abandona aqueles que servem com coração sincero.
27. “Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7) e promete recompensar aqueles que, mesmo nos pequenos gestos, mostram amor: “Quem vos der ainda que seja um copo de água porque sois de Cristo, não ficará sem recompensa” (Mc 9,41).
28. Em Maria, a Serva do Senhor, encontramos o modelo perfeito de serviço alegre:
29. Sua prontidão em responder ao chamado de Deus, dizendo “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38), e sua visitação a Isabel mostram que a verdadeira felicidade está em viver para os outros.
30. A história da Igreja está repleta de santos e santas que encontraram sua alegria no serviço.
31. São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá e tantos outros nos ensinam que a caridade, quando vivida plenamente, é fonte de alegria perene.
32. Que Maria, Causa de Nossa Alegria, e os santos intercedam por nós, para que possamos seguir seu exemplo e nos tornarmos servidores alegres na Igreja e no mundo.
33. Convido todas as comunidades no Habblet Hotel a refletirem, em seus encontros, no seu diálogo e nas atividades, sobre a ligação entre o serviço e a felicidade, do amor e da alegria deste significado de amar e ser amado.
34. Que sejam promovidos momentos de partilha, oração e formação sobre este tema tão central à vida cristã. Que cada leigo se pergunte ao interior: como posso servir melhor minha comunidade e meus irmãos?
35. Que talentos Deus me deu que podem ser colocados a serviço do próximo?
36. Exorto cada um de vocês a viver o serviço com espírito de alegria e gratidão, lembrando sempre que somos colaboradores de Deus na construção de seu Reino (1Cor 3,9).
37. A felicidade no serviço é um reflexo da própria vida de Deus, que se doa constantemente por amor.
38. Ao nos entregarmos ao serviço ao próximo e à Igreja, participamos dessa vida divina e nos tornamos testemunhas vivas do Evangelho.
39. Que esta Carta Apostólica inspire cada um de vocês a servir com alegria e generosidade, confiando na promessa de Cristo: “Bem-aventurados os servos fiéis, porque grande será a sua recompensa” (Mt 25,21).
Dado em Roma, junto a São Pedro, aos 15 dias de dezembro do ano do Senhor de 2024, no domingo gaudete e primeiro do meu Pontificado.
+ ROMANO II
Sumo Pontífice