Encíclica Apostólica - Pastor Secundum Cor Christi

Encíclica Apostólica
PASTOR SECUNDUM COR CHRISTI
Do Sumo Pontífice João Paulo IX
Sobre a Missão do Bispo como Pastor segundo o Coração de Cristo

Aos diletíssimos irmãos no episcopado. Aos Cardeais da Santa Igreja Romana, aos Bispos, e a todos os que participam do cuidado pastoral da grei de Cristo, saudação, paz e bênção apostólica em Cristo, Bom Pastor.

Introdução

1. “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15). Estas palavras do profeta Jeremias são, ainda hoje, profeticamente pronunciadas por Deus à Sua Igreja. Elas ressoam nos corações de todos os que, pela graça do sacramento da Ordem, participam da missão de guiar o Povo de Deus, como expressão viva da caridade pastoral de Cristo. A presente encíclica deseja ser, antes de tudo, um apelo ao coração dos Bispos da Igreja: um apelo à renovação interior, à fidelidade e ao zelo apostólico que deve caracterizar o ministério de cada pastor.

2. No espírito da exortação apostólica Pastores Gregis de São João Paulo II, recordamos que o Bispo “é o princípio visível e o fundamento da unidade na sua Igreja particular” (§7), e que a sua missão se insere no desígnio salvífico do Pai, que confiou ao Filho o cuidado do rebanho.

Capítulo I
 A Imagem do Bom Pastor nas Escrituras

3. O fundamento primeiro do ministério episcopal está na figura do Bom Pastor: “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10,11). Cristo não apenas se apresenta como guia e defensor das ovelhas, mas como aquele que se entrega totalmente em sacrifício por elas.

4. O modelo veterotestamentário do pastor é ambíguo: enquanto alguns reis e chefes de Israel falham em seu cuidado, o próprio Deus se promete como Pastor: “Eis que Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas” (Ez 34,15). Cristo é o cumprimento dessa promessa divina.

5. O Bispo, pela imposição das mãos e oração da Igreja, é configurado a este Cristo Pastor. Como afirma o Concílio Vaticano II na Lumen Gentium: “Pela imposição das mãos e pela palavra da consagração, recebe-se a plenitude do sacramento da Ordem, e assim se torna o legítimo sucessor dos Apóstolos” (LG 21).

Capítulo II
O Ministério do Bispo na Tradição da Igreja

5. Desde os tempos apostólicos, a figura do Bispo foi central para a estrutura eclesial. Santo Inácio de Antioquia, escrevendo aos Esmirnenses, afirma: “Onde estiver o Bispo, ali esteja o povo, como onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica” (Ad Smyrn., 8,2).

6. A missão episcopal não é mero ofício administrativo. É carisma. É cruz. É presença sacramental de Cristo Cabeça e Pastor. Como afirmado por Bento XVI na homilia de inauguração de seu ministério petrino: “Não existe nada mais belo do que conhecer Cristo e dar aos outros a amizade com Ele” (24 abr 2005).

7. O Papa Pio XII, na encíclica Mystici Corporis Christi, recorda que o Episcopado é “um sacerdócio eminentemente pastoral”, e que “os Bispos são sucessores dos Apóstolos não apenas em título, mas em missão, espírito e responsabilidade”.

Capítulo III
O Bispo como Mestre da Palavra

8. O primeiro dever do Bispo é anunciar o Evangelho com fidelidade. Como ensina São Paulo: “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16). O Bispo é o pregador primeiro da Palavra na sua Igreja particular.

9. Na encíclica Evangelii Nuntiandi, o Papa Paulo VI afirma que “a evangelização é, antes de mais nada, uma obra interior de conversão”, e que “a Igreja tem o dever de evangelizar, ou seja, de pregar e ensinar, de ser o canal do dom da graça, de reconciliar os pecadores com Deus” (§14).

10. A pregação do Bispo deve ser clara, fundamentada, pastoral e incansável. Como diz a carta pastoral do Papa Sisto:“Não temamos levantar a voz da fé contra os ventos do erro. O silêncio dos pastores é já meio caminho para a dispersão do rebanho”.

Capítulo IV
O Bispo como Santificador

11. Pela celebração dos sacramentos, o Bispo santifica o seu povo. A Eucaristia, fonte e ápice da vida da Igreja, é o centro da sua vida episcopal. “O Bispo é o grande liturgo da Igreja particular”, diz a exortação Sacramentum Caritatis (§39).

12. A ordenação de novos presbíteros, a crisma dos fiéis, a consagração do óleo e a dedicação de igrejas são sinais da missão santificadora do Bispo. Ele deve cuidar da liturgia com reverência e zelo, para que, através dos sinais, o povo acesse a graça de Deus. A espiritualidade episcopal nasce da celebração: nela o Bispo se encontra com Cristo e com o povo, alimentando-se e alimentando o rebanho.

Capítulo V
O Bispo como Governante: A Caridade Pastoral

13. Governar é servir. Esta é a lógica do Evangelho. O Bispo, sucessor dos Apóstolos, governa em nome de Cristo, e sua autoridade é participação na única autoridade de Cristo, que lava os pés dos seus.

14. O Papa Francisco, na exortação Evangelii Gaudium, exorta os pastores a terem “cheiro de ovelha” (§24), vivendo com e para o povo, não como príncipes distantes, mas como servos presentes e compassivos.
     O governo episcopal deve ser colegial, consultando o presbitério, escutando os fiéis, respeitando os carismas, favorecendo a sinodalidade.

Capítulo VI
A Cruz do Pastor: A Dimensão do Sofrimento

15. O Bispo não é poupado do sofrimento. Ao contrário, como Cristo, é chamado a carregar a cruz, muitas vezes sozinho, incompreendido, ferido. Mas aí está o seu maior testemunho.

16. O Papa João Paulo II, na carta Salvifici Doloris, ensina que o sofrimento unido a Cristo “tem um valor redentor”. O Bispo que sofre por sua Igreja torna-se instrumento da redenção. Como dizia São Carlos Borromeu: “Um Bispo que não sofre com e pelo seu povo, não é digno de seu nome”.

Capítulo VII
Maria, Mãe dos Pastores

17. O Bispo deve cultivar uma devoção filial à Bem-Aventurada Virgem Maria. Ela, que cuidou de Cristo, cuida agora dos que O representam. “Sob o manto de Maria, os pastores encontram abrigo seguro”, escreve o Papa Leão XIII na encíclica Octobri Mense. Que cada Bispo aprenda de Maria o silêncio contemplativo, a escuta atenta, a firmeza na dor e a alegria na fidelidade.

Conclusão

18. Veneráveis Irmãos, neste tempo em que tantas forças ameaçam dispersar o rebanho de Cristo, sejamos pastores segundo o Seu coração: próximos, humildes, corajosos, orantes, vigilantes.

19. Como disse o Papa Pio X na carta Haerent Animo: “A santidade do pastor é a maior garantia da conversão do rebanho”.

20. A vós, confiamos esta missão sublime. A mim, e a vós, irmãos no episcopado, cabe esta santa responsabilidade. Com os olhos fixos em Cristo, com o auxílio do Espírito, e sob a proteção de Maria, caminhemos juntos rumo à plenitude do Reino.

Dado em Latrão, Sé Diocesana do Bispo de Roma, na Solenidade do Bom Pastor, no dia onze de maio do ano do Senhor de 2025, Jubileu da Esperança e primeiro do meu Pontificado.

JOÃO PAULO PP. IX
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