Homilia | Posse na Cátedra de Latrão

 
HOMILIA DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO IX
POSSE NA CÁTEDRA DE LATRÃO

Arquibasílica de São João de Latrão • 03/06/2025

Querido Dom Leopoldo, no qual saúdo todos os Cardeais,
Querido Dom Agnelo, no qual saúdo todos os Bispos,
Querido Padre Helder, no qual saúdo todos os Presbíteros,
Querido Diác. Everton, no qual saúdo todos os Diáconos,
irmãos, irmãs, religiosos, religiosas, povo de Deus, peregrinos na Esperança.

Aqui estamos, nesta basílica que é mãe. Mãe de todas as igrejas. Aqui está Pedro, em mim — e eu, bem pequeno, dentro deste chamado que me ultrapassa.

Hoje começa visivelmente o que já vinha sendo gestado no silêncio da oração. O que começa não é o poder. É o serviço. E é diante da Palavra que isso fica claro.

Escutamos Paulo, aquele que foi derrubado e refeito. Ele olha para trás e diz: “não recuei”. E olha para frente e diz: “sei o que me espera: cadeias e tribulações”. Mas diz isso sem pesar. Diz isso com a leveza de quem sabe em quem confiou. E é isso que eu hoje peço a Deus: que eu nunca recue. Que eu nunca me envergonhe do Evangelho. Que eu não me esconda atrás de cautelas humanas quando for preciso levantar a voz por Cristo e pelos seus pequenos.

E escutamos Jesus. O seu olhar já atravessa a morte. Ele está na véspera da cruz, e o que faz? Reza. Reza pelos seus. Pede ao Pai que os guarde, que os una, que os santifique. Não manda, não instrui, não exige. Entrega. Confia.

Pedro deve fazer o mesmo. Entregar. Confiar. Guardar o rebanho, não com o controle, mas com a compaixão. A unidade que Pedro é chamado a servir não nasce do centro, mas do Coração de Cristo. Um coração que se parte para que ninguém se perca.

E neste dia, a Igreja celebra com ternura e pasmo o martírio de jovens africanos. São Carlos Lwanga e seus companheiros. Meninos. Alguns catecúmenos. Alguns adolescentes. Morreram queimados porque se recusaram a negar Jesus. E também porque defenderam a dignidade de seus corpos, o respeito por si mesmos e pelos outros. Com eles, a África ofereceu à Igreja sangue novo, fé ardente, esperança intacta.

Eles são testemunhas de que a santidade é possível mesmo num mundo em guerra. Eles são profetas de uma juventude que não se rende à indiferença. São Carlos e seus irmãos nos dizem: “Não tenham medo. Amar vale mais do que viver sem amor”.

E estamos no Jubileu. Já não falamos dele no futuro. É agora. É tempo de graça. De portas abertas. De corações de novo sensíveis. Somos peregrinos. Não turistas da fé. Peregrinos. Gente que caminha com perguntas, com cansaços, com sonhos. Gente que ainda crê, mesmo quando a noite é escura.

O lema é claro: Peregrinos de Esperança. Não peregrinos da ilusão. Não peregrinos de doutrinas vazias. Mas gente que anda com a luz frágil da esperança acesa entre as mãos. A esperança que é Cristo — não uma ideia, mas um rosto. Um rosto ferido e ressuscitado.

Este é o tempo de deixar cair os pesos inúteis. O tempo de abrir os olhos para os pobres. O tempo de escutar mais do que falar. Tempo de reconciliar, de curar, de chorar juntos. Tempo de ser Igreja com os que ninguém vê. Igreja que se abaixa para levantar. Igreja que não tem medo das feridas do mundo porque conhece as suas.

Este Papa quer ser o primeiro a caminhar com vocês. Não acima. Não na frente. Com vocês. Com os pastores. Com os consagrados. Com os jovens que têm fome de verdade. Com os avós que guardam a memória. Com os migrantes sem pátria. Com os mártires escondidos do nosso tempo. Com os católicos fracos, os pecadores inveterados, os que já não sabem rezar.

Irmãos e irmãs, o mundo não precisa de um Papa forte. Precisa de um Papa crente. Que não fuja da cruz. Que peça perdão. Que ame mais do que tema.

Por isso, hoje não vos prometo um pontificado de êxitos. Prometo um caminho. Com lágrimas e com fé. Como Paulo. Como Pedro. Como Carlos Lwanga.

E vos peço: rezai por mim. Não para que eu seja bem-sucedido. Mas para que eu seja fiel. Quando estiver cansado, quando for incompreendido, quando me faltar o ânimo, quando vier a tentação de me proteger.

E, se eu cair, que me ajudeis a levantar. Não por mim. Mas por Aquele que nos chama a todos — e que, mesmo diante da morte, ainda ousava dizer: “Pai, glorifica o teu Filho… para que o Filho te glorifique”.

Que a Igreja, peregrina da esperança, nunca deixe de glorificar o Pai — com a vida doada, com a fé humilde, com a caridade ardente..

Assim seja. Amém.
Postagem Anterior Próxima Postagem

نموذج الاتصال