HOMILIA DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO IX
SANTA MISSA COM ORDENAÇÕES PRESBITERAIS
Arquibasílica de São João de Latrão • 07/06/2025
Queridos irmãos e irmãs,
Amadíssimos filhos que hoje recebeis o dom sagrado da Ordem,
Filhos e filhas da Santa Igreja, Esposa de Cristo,
Neste dia luminoso em que o Céu se inclina sobre a terra, nesta Vigília de Pentecostes, o Espírito Santo paira sobre nós, como outrora pairou sobre as águas da criação e sobre os Apóstolos no Cenáculo. Hoje, este mesmo Espírito desce com poder sobre vós, filhos escolhidos, que ireis receber o sacramento da Ordem e ser configurados a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.
A Palavra de Deus que ouvimos é como uma chama acesa sobre os vossos corações — e sobre o meu também. É São Paulo quem vos fala com a urgência de um pastor que ama profundamente o rebanho e sabe que o tempo é breve. “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho”, diz ele aos anciãos de Éfeso, “sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho.”
Sim, caros filhos, esta Igreja que hoje vos confia as suas almas é santa, mas também ferida, necessitada de pastores que curem com ternura, que guiem com sabedoria, que lavem os pés com humildade e que defendam com coragem. O vosso sacerdócio não vos é dado para glória própria, mas para que sejais, como o salmista canta, sacerdotes “segundo a ordem do rei Melquisedec” — eternos, não por longevidade biológica, mas porque unidos ao único Sacerdócio de Cristo, que não conhece ocaso.
E nesta Vigília de Pentecostes, o Espírito vos unge com um fogo que não queima, mas inflama. A Igreja clama por um novo Pentecostes — e sois vós os primeiros anunciadores desta renovação. Não com gritos, nem com estratégias humanas, mas com a vida doada como grão de trigo que cai na terra e morre. Eis o Evangelho de hoje: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só; mas, se morre, produz muito fruto.”
Padres do novo Pentecostes, morrei! Morrei para o egoísmo, para a vanglória, para as vaidades do mundo. Morrei para que Cristo viva em vós. Porque só o padre que morre com Cristo é capaz de ressuscitar com Ele no coração dos fiéis.
Pedro, na segunda leitura, recorda-nos que “o fim de todas as coisas está próximo”. Isso não é motivo de medo, mas de missão. Servi “uns aos outros, cada qual com o dom que recebeu”, como bons administradores da multiforme graça de Deus. Falai com a linguagem de Deus, servi com a força de Deus, sede, em tudo, transparência de Deus.
Hoje, nesta ordenação, vosso sim encontra-se com o sim do Espírito Santo. Vossos lábios tocarão o cálice da Nova Aliança, vossas mãos consagradas erguerão o Corpo de Cristo. Mas lembrai-vos: o altar é também cruz. E a cruz é o vosso púlpito mais eloquente.
A Igreja precisa de sacerdotes santos, não eficazes. Corajosos, não populares. Fieis, não simplesmente úteis. O povo de Deus reconhecerá em vós a presença do Bom Pastor se virdes neles não um campo de trabalho, mas um terreno sagrado onde Deus habita.
Por isso, eu vos digo: sede como a brisa suave do Espírito para os corações cansados, sede voz que consola, mãos que abençoam, olhos que enxergam até a lágrima escondida. Sede pontes e não muros. Sede fogo, e não cinzas. Sede homens da Eucaristia, homens da Palavra, homens do Espírito.
E tu, Virgem Maria, Mãe dos Sacerdotes, vela por estes teus filhos hoje ordenados. Como estavas no Cenáculo, permanece com eles. Ensina-os a escutar o Espírito e a gerar Cristo no coração do mundo.
Em nome de Cristo, Bom Pastor, abençoo-vos e envio-vos. E como Sucessor de Pedro, digo-vos com ternura e firmeza:
Ide, filhos, e acendei no mundo o novo Pentecostes.
Assim seja. Amém.