Discurso | Ação de Graças pelo Pontificado de João Paulo IX

Discurso pronunciado por Sua Eminência Reverendíssima, Leopoldo Jorge Cardeal Scherer, Decano do Colégio dos Cardeais, na Missa em ação de Graças pelo Pontificado de João Paulo IX.

Basílica de São Pedro
06/07 - 21h00

Santo Padre, meus irmãos e minhas irmãs.

Hoje, nesta Santa Missa, somos todos filhos. Filhos reunidos em volta do leito simbólico de um Pai que nos guiou, nos corrigiu, nos abraçou... e que agora, em silêncio, prepara-se para nos deixar.

Santo Padre João Paulo IX, não há palavra que possa nomear o que hoje sentimos. Não há liturgia que expresse a profundidade deste momento. 

Não há discurso que o baste. Porque hoje não estamos simplesmente marcando o fim de um pontificado. Estamos assistindo, com o coração ferido e grato, à partida de um Pai. 

Um Pai que cuidou da sua casa com mãos firmes e ternas.
Um Pai que nos ensinou que autoridade não é domínio, mas sacrifício.
Que governar a Igreja é antes de tudo amar até sangrar. 

Quantas noites terá Vossa Santidade chorado em silêncio, pelas divisões, pelas feridas, pelas traições?
Quantas vezes teve de suportar o peso do silêncio, da solidão, da incompreensão?
Mas mesmo assim, nunca abandonou os filhos. Mesmo diante do cisma, quando muitos se deixaram seduzir por vozes disfarçadas de verdade, Vossa Santidade permaneceu. Permaneceu de pé. Permaneceu firme. Permaneceu como Pai.

Santo Padre, nós o vimos tomar nas mãos uma Igreja ferida e hesitante – e não apenas levantá-la, mas fazê-la caminhar outra vez com dignidade. Não fugiu dos escombros. Não disfarçou a dor. Enfrentou. Rezou. E nos fez acreditar que ainda havia esperança.

Como filhos, agora nos sentimos órfãos. Não de fé – pois o senhor nos alimentou com ela até o fim. Mas órfãos do seu olhar que corrigia sem humilhar.
Órfãos do seu silêncio que ensinava mais do que discursos. 
Órfãos da sua voz que, ao falar, nos lembrava que Deus ainda caminha conosco.

Talvez nunca mais encontremos um Pai como o senhor. Talvez, como filhos, ainda tropeçaremos na ausência que se seguirá. Mas Santo Padre, prometemos: guardaremos o que nos deixou e delegou.

Guardaremos os princípios que restaurou, as verdades que defendeu, o amor que nos deu sem medidas. E se hoje choramos, é porque amamos. E se hoje trememos, é porque o senhor nos marcou com o peso da sua presença uma presença que não será apagada com o tempo, pois o tempo não apaga aquilo que é eterno.

Não se preocupe, Santidade, pois a Igreja que o senhor amou até o limite da entrega, continuará de pé. Porque um Pai verdadeiro nunca parte de verdade. Permanece no espírito, na memória, no exemplo. E de onde estiver, olhai por nós, pois os filhos ainda precisam do olhar do Pai.

Obrigado, Santo Padre João Paulo IX!
Nosso amor o acompanha; o nosso pranto o honra e a nossa fidelidade será sua herança! Obrigado! Obrigado! Obrigado!

Em Cristo,



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