HOMILIA
SANTA MISSA PRO ELIGENDO
BASÍLICA VATICANA DE SÃO PEDRO
12 de julho de 2025 - 11h30
Eminentíssimos irmãos Cardeais e amado povo de Deus, reunida aqui, clamando pelo nosso novo Pastor.
Comparecemos hoje, neste sólio, que é a sede visível do Pontificado Romano, para dar início, ad normam iuris, ao Conclave — a fim de prover, sob a moção do Espírito Santo, o sucessor legítimo à Sé vacante de Pedro.
Esta Sé se encontra, neste momento, vacante de pleno iure, em decorrência da renúncia válida, livre e consciente do Santo Padre João Paulo IX, no passado dia sete de julho, cujos méritos, zelo apostólico e fidelidade à verdade permanecerão como testemunho indelével na consciência da Igreja.
A premissa fundamental que deve nortear nossos trabalhos, e que se impõe com a força de um axioma teológico-jurídico, é a assertiva proferida por Nosso Senhor no Evangelho de São João que acabamos de escutar: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi.”
Tal enunciado, de natureza fundacional, define que toda eleição autêntica na Igreja não é primariamente um ato humano, mas um ato de Deus operado por mediação. Assim sendo, o Conclave não é um processo político; é um ato sacramental-administrativo, exercido por um colégio de jurisdição extraordinária, cujos membros são moralmente obrigados a julgar segundo critérios espirituais, doutrinais e pastorais, e não segundo predileções temporais ou alianças circunstanciais.
À luz da primeira leitura (Is 61, 1-3a), delineia-se o ofício do eleito: aquele sobre quem repousará o Espírito do Senhor, para proclamar o Evangelho, consolar os aflitos e sustentar a justiça. Esta unção — distinta da ordenação sacramental — é uma graça de estado, concedida ao Papa como cabeça visível da Igreja, investido do poder supremo, pleno, imediato e universal, ad normam can. 331 CIC.
Ora, a missão do Pontífice Romano não pode ser reconfigurada por modismos ou pressões midiáticas. Ele não é gestor de corporação eclesiástica, nem intérprete de tendências sociais. Ele é o juiz supremo da Fé e Pastor universal das almas, vinculado ao depósito revelado e ao Magistério perene da Santa Madre Igreja. Sua função é, por essência, jurisdicional, magisterial e pastoral, nunca ideológica ou experimental.
Como afirmou o Papa São Paulo VI, “a Igreja não se interroga sobre o que o mundo pensa dela; ela se interroga sobre o que Cristo espera dela.”
Neste ensejo, cumpre-me, como Decano do Colégio, emitir um parecer claro e inequívoco: o modernismo teológico, moral e litúrgico — já devidamente condenado pelo Magistério com força definitiva — constitui grave violação à integridade da fé católica.
O relativismo doutrinal, o sincretismo espiritual, os experimentalismos litúrgicos e a tentativa de remodelar a moral eclesiástica conforme os costumes do mundo moderno são nulidades doutrinais, desprovidas de validade pastoral, teológica ou jurídica, é uma infâmia que abunda o mundo neste século.
Como já reiterado pelo saudoso Papa Bento XVI, o “relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e os seus desejos, constitui a principal ameaça à fé.” Este tipo de concepção não edifica a Igreja, mas a fragmenta, dissolvendo a unidade na arbitrariedade individual.
Dirijo-me agora a vós, diletos irmãos Cardeais: É-nos confiada missão de natureza gravíssima: exercer, sob o selo do segredo e da oração, o voto que elegerá o novo Sumo Pontífice.
O que nos é exigido não é o cálculo político, mas o discernimento evangélico. Não se trata de atender clamor das massas ou apelos exteriores. Trata-se de, sob juízo de consciência reta, buscar aquele que, por sua fidelidade, ortodoxia, fortaleza espiritual e caridade pastoral, melhor possa presidir, na verdade e na caridade, toda a Igreja de Nosso Senhor que aqui peregrina à quase quinze anos.
Não devemos temer a fidelidade. Não devemos temer a verdade. Devemos temer apenas o erro travestido de misericórdia, a omissão disfarçada de prudência, e o desvio doutrinário legitimado por uma falsa noção de pastoralidade.
Recolhamo-nos agora em espírito de súplica. A eleição que ora se inicia é momento de juízo, de graça e de missão. Exige de nós vigilância, ciência e retidão. Que o Espírito Santo, cujo nome é paráclito — isto é, advogado e consolador —, seja nosso guia e nosso juiz. Que Ele nos inspire, nos esclareça e nos conduza.
E à Mãe de Deus, Maria Santíssima, sede da sabedoria e espelho da justiça, confiamos este Conclave. Que ela, que gerou o verbo eterno no silêncio e na fidelidade, acompanhe com seu olhar materno o eleito do Senhor, para que este, uma vez escolhido, possa, com plena legitimidade e santidade, proclamar-se, como Pedro outrora: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”
E com ele, nós possamos logo anunciar à Igreja e ao mundo: Habemus Papam! E dizer aos inimigos que a Igreja vive e que o legado de Cristo permanece de pé e indissolúvel.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado e sua Mãe, Maria Santíssima.