Carta aberta ao Colégio dos Cardeais e à Santa Igreja

BONIFATIUS, EPISCOPUS
PONTIFEX MAXIMUS
SERVUS SERVORUM DEI

A todos quantos estas letras lerem, saúde, paz e bênção apostólica.

Em virtude do Motu Proprio publicado ontem, recebi inúmeras contestações e até sinais de descontentamento dentro do Colégio dos Cardeais. Tal reação não me surpreende, pois sempre foi esperado que, diante das reformas e medidas necessárias, surgissem resistências e críticas. Contudo, o que causa verdadeira dor é ver que, em vez de diálogo franco e leal, muitos preferem levantar suspeitas e acusações veladas contra o Sucessor de Pedro.

Recordo-me bem das palavras proferidas no início do meu Pontificado: “Um reparo diligente, uma organização firme e o restabelecimento de estruturas tantas vezes corrompidas e dilaceradas.” Foi para isso que fui eleito: para combater a desordem e a indisciplina, para reafirmar que o Papa — Bispo de Roma e Pastor da Igreja Universal — não é uma mera figura simbólica, mas aquele a quem Cristo confiou a plenitude da autoridade na Igreja.

A hierarquia, outrora respeitada, encontra-se hoje fragilizada. Padres desobedecem bispos, e até bispos levantam-se contra o Papa. Não é de admirar que, em tais circunstâncias, a Igreja se veja ferida em sua unidade. Esquece-se que o Colégio dos Cardeais não foi instituído para governar o Papa, mas para aconselhá-lo e apoiá-lo. A decisão sobre a criação e eleição de novos cardeais sempre pertenceu ao Pontífice, assistido pelo Decanato, e não ao corpo cardinalício em si.

O Motu Proprio de ontem não visou intimidar, mas restaurar a ordem. Foi necessário, porque muitos cardeais, no passado, desmereceram nomeações pontifícias, julgando irmãos seus de forma injusta e arrogando-se uma autoridade que não possuem. Questiono: quem sois vós para julgar aqueles que o Papa reintegra ou eleva? Acaso não é este julgamento, por vezes disfarçado de zelo, uma traição à comunhão eclesial?

O Papa não governa para agradar preferências pessoais, mas para guardar a integridade da fé e a unidade da Igreja. Questionar o Papa em privado, com espírito fraterno, é legítimo; mas conspirar, atacar pelas costas e dividir, isso sim é um atentado contra a coroa pontifícia e contra a própria Igreja.

A reforma que empreendo é exigente, e muitos se sentirão feridos porque não estão preparados para a disciplina e a obediência que ela requer. Contudo, não fujo à responsabilidade: se for preciso corrigir, corrigirei; se for preciso suspender, suspendo; se for preciso afastar, afastarei. O amor pela Igreja exige firmeza.

Mas quero que saibam: tudo o que faço é em vista da esperança. Desejo uma Igreja renovada, unida, reconciliada com sua tradição de respeito e comunhão. Uma Igreja onde o apostolado não se reduza a entretenimento ou vaidade, mas seja verdadeiro campo de evangelização, catequese e conversão.

Avizinham-se tempos de mudança. Haverá dores, mas também frutos abundantes. Que cada um, em vez de se perder em críticas estéreis, possa reencontrar a alegria de ser Igreja, de viver em unidade com o Papa, mesmo reconhecendo sua humanidade e suas falhas. Pois é somente na unidade, e não na divisão, que o Corpo de Cristo pode cumprir sua missão.

Com esperança, firmeza e confiança em Cristo, prossigo nesta luta. Porque amo a Igreja, e quero vê-la forte, respeitada, fiel ao Evangelho e unida em torno do sucessor de Pedro.

Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia 19 de setembro do ano do Senhor de 2025, primeiro do meu Pontificado.

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