EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
OMNES AUTEM VOS FRATRES ESTIS
DO SANTO PADRE
BONIFÁCIO
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
PARA A CONVOCAÇÃO DO
ANO SANTO DA FRATERNIDADE
PROEMIO
1. Com coração pastoral, voltado para o clamor do Evangelho e atento aos sinais dos tempos, convocamos, por esta nossa Exortação, o Ano da Fraternidade, a ser celebrado em toda a Igreja entre 11 de janeiro e 31 de dezembro de 2026.
2. O Senhor Jesus, antes de nos deixar o mandamento do amor, proclamou: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Esta palavra, tão simples e direta, ilumina a identidade cristã e constitui o fundamento de uma sociedade renovada, onde cada pessoa é reconhecida, respeitada e amada como filha de Deus.
3. Na complexidade do mundo atual, onde aumentam divisões, guerras e indiferença, a Igreja sente-se chamada a testemunhar, com vigor renovado, a fraternidade universal, raiz do bem comum e fermento de paz. Como recorda o Papa Francisco em Fratelli Tutti: “Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos abriga a todos, cada um com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada um com a sua própria voz” (FT 8).
O FUNDAMENTO BÍBLICO E TEOLÓGICO DA FRATERNIDADE
4. Desde o livro do Gênesis, a Sagrada Escritura nos revela que todos os homens e mulheres foram criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26-27). Daí decorre a igual dignidade de todos os povos, línguas e culturas.
5. Os profetas lembraram, em diversas ocasiões, que o culto agradável ao Senhor não se separa da justiça e do cuidado pelo irmão: “O que Eu quero é amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os 6,6).
6. Jesus Cristo, Filho unigênito do Pai, encarnando-se, fez-se nosso irmão, partilhando em tudo da nossa humanidade (cf. Hb 2,17). Na cruz, abriu os braços para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos (cf. Jo 11,52), e no Espírito Santo derramou sobre todos o dom da comunhão.
7. O Catecismo da Igreja Católica ensina: “A revelação do mandamento do amor fraterno é inseparável da revelação do amor de Deus” (CIC, 2822). O amor ao próximo é, portanto, sinal e expressão da fé autêntica, porque “quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).
A FRATERNIDADE COMO VOCAÇÃO CRISTÃ
8. Ao longo dos séculos, a Igreja não cessou de recordar que a fraternidade é parte essencial da sua missão. O Concílio Vaticano II afirmou: “Todos os homens formam uma só comunidade. Têm uma só origem, pois Deus fez habitar sobre a face da terra todo o gênero humano” (GS 24).
9. Os santos foram testemunhas luminosas desta verdade. São Francisco de Assis saudava a todos como irmãos e irmãs, reconhecendo na criação inteira reflexos do amor do Altíssimo. Santa Teresa de Calcutá, servindo os mais pobres, mostrou que a fraternidade não conhece fronteiras de raça, credo ou condição social.
10. Hoje, o Espírito Santo nos convida a redescobrir que a fraternidade não é um ideal abstrato, mas caminho concreto de santidade, que passa pela escuta, pelo perdão e pelo serviço generoso.
CONVOCAÇÃO
11. Por isso, em virtude da solicitude apostólica que nos foi confiada, declaramos e convocamos, para toda a Igreja, o Ano da Fraternidade, que terá início em 11 de janeiro de 2026, Festa do Batismo do Senhor e se concluirá em 31 de dezembro de 2026, Vésperas de Santa Maria, Mãe de Deus.
12. Durante este tempo de graça, desejamos que sejam intensificadas iniciativas de oração, catequese, formação e caridade, para que o mandamento do Senhor — “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12) — se torne mais vivo e eficaz nas nossas comunidades.
13. Exortamos as Conferências Episcopais, as dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada e todas as associações de fiéis a promoverem:
i) Celebrações litúrgicas especiais, sobretudo na festa de São Francisco de Assis, patrono da fraternidade universal;
ii) Jornadas de oração pela paz, em comunhão com os irmãos de outras religiões;
iii) Obras concretas de caridade, especialmente em favor dos pobres, migrantes, refugiados e marginalizados;
iv) Encontros formativos, inspirados na Doutrina Social da Igreja, para promover uma cultura de encontro e de diálogo.
EXORTAÇÃO FINAL
14. Amados filhos e filhas, não temais: Cristo Ressuscitado caminha conosco e faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5). Neste Ano da Fraternidade, que agora convocamos, queremos que a Igreja seja casa aberta e acolhedora, sinal de esperança para o mundo.
15. O Santo Padre João Paulo II ensinou: “O homem não pode viver sem amor. Permanece para si próprio um ser incompreensível, a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor” (Redemptor Hominis, 10). O amor que dá sentido é aquele que reconhece no outro um irmão.
16. Elevemos, pois, os olhos a Maria Santíssima, Mãe da Igreja e Rainha da Paz, que nos ensina a viver como irmãos e irmãs. A Ela confiamos os frutos espirituais e pastorais deste Ano da Fraternidade.
17. Que todos os cristãos, em cada lugar, possam proclamar com as suas vidas: “Já não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
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Motu Proprio
Papa Bonifácio III