CARTA ENCÍCLICA
"EGO SUM VIA, VERITAS ET VITA"
DO SANTO PADRE
SISTO
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
PONTÍFICE MÁXIMO
SOBRE O CAMINHO DO CRISTÃO
Aos eminentíssimos Cardeais, excelentíssimos Bispos, Reverendíssimos Padres e Diáconos, estimados irmãos religiosos e religiosas e povo amado de Deus, saudação, paz e benção apostólica.
Proêmio
1 - Saudações em Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Via, a Verdade e a Vida. Com alegria e confiança, escrevo esta Encíclica para refletirmos sobre o profundo mistério contido na afirmação de Cristo: “Ego sum via, veritas et vita” – "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6). Em um tempo de incertezas e desafios, é vital que como Igreja, renovemos nosso compromisso de seguir Cristo, a única resposta para o homem de todos os tempos. A nossa fé e a nossa esperança encontram sua base nesse Caminho, nessa Verdade e nessa Vida que é Jesus.
2 - Em um mundo repleto de múltiplas propostas de vida, de filosofias que se contradizem e de sistemas que buscam respostas que não podem oferecer verdadeira paz, o Evangelho ressurge como a única verdade que ilumina os caminhos do homem. Somos chamados a ser testemunhas dessa verdade, anunciando com coragem e convicção a Boa Nova de Cristo. A Igreja, com seu ensinamento e com seu serviço ao próximo, é o canal escolhido por Deus para comunicar a salvação oferecida por Cristo, e para mostrar a todos que Ele é o único meio de reencontrarmos a verdadeira liberdade e a vida plena.
3 - A afirmação de Cristo, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, não é apenas uma instrução teológica ou filosófica, mas uma revelação profunda de Sua identidade divina. Jesus se apresenta como a única resposta para as inquietações mais profundas do coração humano. Ele não é apenas um guia que nos aponta a direção, mas Ele é o próprio Caminho, a própria Verdade e a própria Vida. Como Igreja, somos chamados a viver essa revelação e a anunciá-la ao mundo, sendo instrumentos de Sua graça e amor em todos os aspectos da nossa vida.
4 - O presente documento visa refletir sobre as implicações dessa revelação, a partir da experiência de fé vivida pelos discípulos de Cristo, e do modo como a Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a ser fiel a essa missão de anunciar o Evangelho a todos os povos. A seguir, abordaremos o significado de Cristo como Caminho, Verdade e Vida, e a urgência de sua mensagem para os homens e mulheres de todos os tempos.
Cristo, o Caminho para o Pai
5 - O próprio Cristo, em Seu diálogo com os discípulos, revela-se como o único Caminho para o Pai. Ele afirma: "Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14,6). Essa declaração não é uma simples indicação de um caminho, mas é a própria presença de Cristo no mundo como meio de reconciliação com Deus. Ele nos ensina que o verdadeiro Caminho não é o que o mundo oferece, mas aquele que leva à união plena com o Pai. O Caminho de Cristo é o modo de vida que revela o amor de Deus e o conduz ao coração do Pai.
6 - O Catecismo da Igreja Católica ensina que "Cristo é a Via, a Verdade e a Vida" (CIC 427). Segui-Lo significa seguir um estilo de vida que imita Seus gestos de misericórdia e de justiça. Ele nos revela o sentido da vida humana e nos orienta para um relacionamento de comunhão com Deus. A vida de Cristo, marcada pela humildade e pela entrega, mostra-nos o que significa ser verdadeiramente humano e ser plenamente reconciliado com Deus.
7 - A Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a ser uma comunidade de peregrinos que caminha neste mundo, confiando plenamente em Cristo como o Caminho. Não podemos ser uma Igreja que vive isolada, mas uma Igreja em saída, como o Papa Francisco nos exorta em Evangelii Gaudium (EG 20), levando o Evangelho de Cristo a todos os cantos da Terra.
Cristo, a Verdade que Liberta
8 - Cristo, ao se declarar como a Verdade, revela não uma verdade abstrata ou filosófica, mas a verdade que liberta o homem de suas mentiras e enganos. "Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8,31-32). A verdade de Cristo é aquela que revela a natureza do ser humano e o plano divino para sua salvação. Ela ilumina a mente e o coração de cada pessoa, conduzindo-a à liberdade plena em Deus.
9 - A Encíclica Veritatis Splendor de São João Paulo II sublinha que "a verdade sobre o homem e sua vocação pode ser encontrada somente em Cristo, e Ele é a única resposta verdadeira aos dilemas e questões da humanidade" (VS 2). A verdade de Cristo é não só uma revelação, mas uma pessoa que nos chama a viver de acordo com Sua Palavra, que nos transforma de dentro para fora. Ao abraçarmos a verdade de Cristo, somos libertos das mentiras que escravizam, como o pecado, o egoísmo e a busca desenfreada por falsas promessas de felicidade.
10 - Essa verdade é revelada também na Sagrada Escritura, onde encontramos no Livro de Isaías: "Este é o caminho, andai por ele" (Is 30,21), lembrando-nos de que seguir a verdade de Cristo é o caminho que nos leva à vida verdadeira. A Igreja, como porta-voz da verdade, tem a missão de continuar a anunciar essa Verdade ao mundo, especialmente em uma sociedade marcada pelo relativismo e pela busca por alternativas passageiras.
Cristo, a Vida que Transforma
11 - Cristo é, finalmente, a Vida. Ele disse: "Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Não se trata apenas de vida biológica, mas da vida plena e eterna que Ele oferece. Sua ressurreição é a chave para entender a verdadeira vida, pois Ele venceu a morte e abriu para nós as portas da vida eterna. Em Cristo, a vida não é apenas uma continuidade da existência, mas uma participação na própria vida divina.
12 - O Papa Bento XVI, em sua Encíclica Deus Caritas Est, nos ensina que "Cristo é a fonte da verdadeira vida, uma vida que se desvela em uma comunhão de amor com Deus e com os outros" (DCE 25). A vida em Cristo é vida plena porque é vida na unidade com o Pai, e ela nos leva a um amor que transforma todas as dimensões do ser humano. Ao vivermos em Cristo, experimentamos a verdadeira liberdade, pois a vida em Cristo é uma vida em plenitude.
13 - A vida em Cristo é também uma vida que se doa. Como Ele mesmo disse: "Quem quiser salvar a sua vida, perderá; mas quem perder a sua vida por causa de mim, a encontrará" (Mt 16,25). Ao seguirmos Jesus, somos chamados a sair de nós mesmos, a entregar nossa vida ao serviço dos outros, especialmente aos mais necessitados. A Igreja é a comunidade que vive essa vida nova, testemunhando a ressurreição de Cristo através de suas ações, da sua caridade e do seu compromisso com a dignidade humana.
A Urgência do Chamado Cristão
14 - O convite de Cristo para segui-Lo no Caminho, na Verdade e na Vida não é uma opção simples ou sem exigências. É um chamado urgente e inadiável. O Senhor nos convoca: "Quem quer que queira vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16,24). O chamado a segui-Lo é radical, exige uma resposta incondicional e nos desafia a viver em conformidade com os Seus ensinamentos, não conforme as ideologias do mundo.
15 - Em Evangelii Gaudium (EG 104), o Papa Francisco nos lembra que "não há tempo a perder, a missão de evangelizar deve ser urgente". O mundo clama por Cristo e pela salvação que Ele oferece. A missão da Igreja não pode ser protelada, pois a humanidade carece da verdade que liberta e da vida que transforma. Não podemos nos contentar com uma fé superficial, mas somos chamados a uma conversão contínua e a uma renovação radical da nossa vida, testemunhando com ousadia o Evangelho.
16 - A urgência dessa missão é ainda mais evidente quando o Papa Paulo VI, em Evangelii Nuntiandi (EN 20), afirma que "o anúncio do Evangelho deve ser feito em todos os lugares, em todas as circunstâncias e com coragem". A Igreja deve ser, portanto, uma Igreja em saída, que vai ao encontro dos mais distantes, dos que vivem nas periferias existenciais e materiais, levando-lhes a Boa Nova de Cristo.
A Igreja, Comunidade do Caminho
17 - A Igreja é chamada a ser a comunidade do Caminho, a viver como uma verdadeira família de peregrinos, unidos em Cristo. O apóstolo Paulo escreve: "Pois todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gl 3,26). Na Igreja, somos chamados a caminhar juntos, como discípulos de Cristo, vivendo o Evangelho em comunhão e serviço. A Igreja não é uma comunidade fechada, mas uma comunidade missionária que se dirige a todos os povos, levando a luz de Cristo.
18 - No Documento de Aparecida (DA 264), os Bispos da América Latina e do Caribe afirmam que "a Igreja deve ser uma comunidade de discípulos e missionários, onde todos caminham juntos na fé e na solidariedade". A missão da Igreja é continuar a jornada de Cristo, a levar todos os homens à salvação, tornando-se uma comunidade que reflete a vida do próprio Cristo.
19 - Viver a comunidade do Caminho significa também ser uma comunidade de acolhimento, onde todos encontram um lugar seguro e fraterno. É fundamental que a Igreja seja um espaço onde o amor de Cristo se manifeste de maneira concreta, especialmente para aqueles que mais necessitam. A vivência da fraternidade cristã é um dos maiores testemunhos de que seguimos o Caminho, a Verdade e a Vida.
A Verdade que Transforma a Sociedade
20 - A Verdade que Cristo revela não é apenas para a vida pessoal, mas também para a transformação da sociedade. A Igreja, como guardiã da Verdade de Cristo, é chamada a ser uma voz profética em um mundo marcado por tantas mentiras e distorções da realidade. Em Caritas in Veritate, o Papa Bento XVI afirma que "a verdade deve ser a base das relações humanas e sociais" (CV 3), e que o amor à verdade nos leva a buscar uma sociedade mais justa e mais humana.
21 - Em um tempo de relativismo, o cristão deve se posicionar firmemente na defesa da Verdade de Cristo, que é a única que pode iluminar os desafios e as crises da sociedade. A missão da Igreja não é apenas cuidar da vida espiritual dos indivíduos, mas também agir de maneira concreta no campo social, promovendo a justiça, a paz e a dignidade humana, como ensina o Papa Francisco em Laudato Si’ (LS 231).
22 - A Verdade de Cristo é a luz que deve guiar as nossas ações, especialmente na construção de uma sociedade mais justa. Quando vivemos essa Verdade, não apenas transformamos nossas vidas, mas também contribuímos para a construção de uma civilização mais humana, baseada no amor e na solidariedade. A Igreja deve ser sempre uma presença profética no mundo, denunciando as injustiças e oferecendo as soluções que Cristo nos ensinou.
A Missão Universal da Igreja
23 - A missão da Igreja é universal, como Cristo nos ensinou: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28,19). A Igreja não é uma comunidade fechada, mas um sinal de salvação para todos os povos, sem exceção. A missão cristã é uma tarefa confiada a todos os discípulos de Cristo, que são chamados a levar o Evangelho a todos os cantos da Terra.
24 - O Papa Paulo VI, em Evangelii Nuntiandi, sublinha que "a missão é um dever de todos os cristãos" (EN 8). Somos todos missionários, independentemente de nossa vocação ou estado de vida. A Igreja deve ser um ponto de encontro de todas as culturas e povos, oferecendo a Cristo como o único Caminho, a única Verdade e a única Vida.
25 - O Papa Francisco, em Evangelii Gaudium (EG 20), lembra-nos que "o anúncio do Evangelho é a missão de toda a Igreja". Não há limites para essa missão, que se estende a todas as situações e lugares onde os homens vivem, trabalham e sofrem. A Igreja deve ser uma luz que ilumina as trevas do mundo, mostrando a todos o Caminho que leva à verdadeira liberdade e à vida eterna.
O Compromisso com a Vida Cristã
26 - A vida cristã é a resposta a esse chamado de Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida. Como cristãos, somos convidados a viver em Cristo de maneira concreta e cotidiana. O Papa João Paulo II, em Novo Millennio Ineunte, exorta-nos a "fazer da vida cristã uma experiência pessoal e comunitária de seguimento de Cristo" (NMI 40). Não basta conhecer as verdades do Evangelho, é necessário vivê-las.
27 - A vida cristã exige uma conversão contínua, uma renovação diária do coração. Como escreveu São Paulo: "Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). A vida cristã é marcada pela santidade, que não é algo opcional, mas uma vocação para todos. Cada cristão é chamado a viver essa santidade, sendo testemunha da presença de Cristo no mundo.
28 - Por fim, o compromisso com a vida cristã envolve viver em comunhão com os outros. A Igreja não é apenas uma instituição, mas a família de Deus, que caminha unida rumo à salvação. Como membros do Corpo de Cristo, somos chamados a viver a fraternidade, a ajudar uns aos outros e a ser sinais vivos de Cristo no mundo. Que a nossa resposta ao chamado de Cristo seja de fidelidade e generosidade.
Conclusão
29 - Queridos irmãos e irmãs, ao refletirmos sobre a revelação de Cristo: “Ego sum via, veritas et vita”, somos convidados a uma conversão profunda e radical. Cristo é o nosso Caminho, nossa Verdade e nossa Vida, e só Nele encontramos o verdadeiro sentido para a nossa existência. Como Igreja, somos chamados a seguir e viver esses princípios, sendo testemunhas vivas da salvação que Ele oferece.
30 - A missão da Igreja é urgente e inadiável, como nunca antes. Devemos ser fiéis ao mandato de Cristo de levar Sua Palavra a todos os povos, anunciando a Verdade que liberta e a Vida que transforma. A Igreja deve ser um sinal de esperança para o mundo, refletindo a luz de Cristo em todas as situações.
31 - Que, com a intercessão de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, possamos viver e testemunhar a fé com coragem e dedicação, sempre confiantes na presença de Cristo, que é o nosso Caminho, nossa Verdade e nossa Vida. Que Ele nos abençoe e nos guie nesta missão.
Dado em Roma, junto a São Pedro, no 3º dia do mês de fevereiro do Ano Jubilar da Esperança de 2025, primeiro do nosso Pontificado.
+ SIXTUS, PP.
Pontifex Maximus