HOMILIA DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO IX
JUBILEU DA IGREJA UNIVERSAL
SOLENIDADE DE PENTECOSTES E
ABERTURA DO CONCÍLIO DO VATICANO V
Praça de São Pedro • 08/06/2025
«O Espírito do Senhor encheu o universo inteiro» (Sb 1,7)
Queridos irmãos e irmãs,
Cardeais, Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas,
Filhos e filhas amados da Santa Igreja espalhados pelos confins da terra,
Hoje é o dia em que a Igreja inteira treme de alegria. Hoje é o dia em que o Céu se curva sobre a terra e sopra de novo sobre nós o Sopro criador. Hoje é Pentecostes. Hoje, como há dois milénios, o Espírito Santo desce sobre a Igreja, renova-a e envia-a.
E neste Pentecostes único na história dos tempos, comovidos até às lágrimas, abrimos solenemente o V Concílio do Vaticano e celebramos o Jubileu da Igreja Universal, recordando aquele primeiro Pentecostes em Jerusalém — nascimento não de uma ideia, não de um movimento, mas de uma comunhão viva, santa, católica e apostólica: a Esposa de Cristo, a nossa Mãe, a Igreja!
Na tarde de Pentecostes, um grupo de homens e mulheres pobres, frágeis, trancados por medo, tornou-se a primeira assembleia sinodal da Igreja: não pela força dos argumentos, mas pela força do Espírito. O Cenáculo tornou-se catedral. A fraqueza tornou-se testemunho. O silêncio tornou-se anúncio.
É este o milagre que hoje imploramos novamente: que o Espírito Santo desça sobre o V Concílio do Vaticano com o mesmo fogo, a mesma luz e a mesma coragem. Não viemos aqui para repetir fórmulas antigas, mas para discernir, com os ouvidos atentos ao Espírito e os olhos fixos em Cristo, o que Ele quer hoje da sua Igreja. O Espírito não fala por nostalgia. Ele conduz a Igreja para a frente, sem arrancar as suas raízes.
Este novo Concílio — o quinto da história moderna do Vaticano — não é um evento diplomático, nem apenas um exercício teológico. É uma escuta radical de Deus e dos gritos do mundo. Viemos como discípulos. Viemos como irmãos. Viemos para reaprender juntos o Evangelho, para reaprender juntos a esperança.
Num mundo ferido por guerras, divisões, desigualdades, num tempo de mudanças tão rápidas que confundem o coração, a Igreja não pode responder com o medo, com o fechamento, com a nostalgia. A resposta da Igreja é a santidade. A resposta da Igreja é o Espírito Santo.
Renovaremos estruturas, sim; mas sobretudo renovaremos os corações. Mudaremos linguagens, sim; mas sobretudo queremos mudar atitudes. Voltar às fontes, sem perder o horizonte. Purificar a memória, sem renunciar à verdade. Curar as feridas, sem esquecer as chagas de Cristo nos pobres, nos migrantes, nas vítimas da indiferença global.
Celebrar este Jubileu da Igreja Universal é como contemplar um grande mosaico feito de mártires, missionários, mães e pais de família, consagrados, crianças inocentes, jovens audazes, idosos sábios — todos aqueles que, durante dois milénios, foram pedras vivas deste edifício espiritual.
Como não chorar de gratidão perante a fidelidade de Deus? Como não nos sentirmos pequenos e pobres diante da santidade escondida do povo de Deus? Como não perceber que cada época teve o seu Pentecostes — porque o Espírito nunca abandonou a Igreja, mesmo nas suas noites mais escuras?
Neste Jubileu, queremos pedir perdão e dar graças. Pedir perdão pelos nossos pecados — individuais e institucionais — e dar graças pela misericórdia que sempre nos reergueu. Celebrar a nossa história, não como um trono de glórias, mas como uma peregrinação marcada pela Cruz e pela Ressurreição.
Queridos irmãos e irmãs,
Este V Concílio e este Jubileu não são apenas para nós. São um dom e uma responsabilidade para o mundo inteiro. A Igreja não existe para si mesma. A Igreja existe para evangelizar. Para lavar os pés da humanidade. Para consolar os desesperados. Para construir pontes. Para ser fermento no meio da massa.
Que este novo Pentecostes nos faça sonhar uma Igreja em saída, pobre entre os pobres, que fala todas as línguas — as línguas da ciência e da arte, da justiça e da compaixão, da juventude e da velhice — para anunciar a todos que Cristo ressuscitou e que o seu amor é mais forte que a morte!
Amada Igreja de Deus,
No Cenáculo, Maria estava com os apóstolos. Hoje, Ela está connosco. Mãe da Igreja, Mãe da esperança, Mãe do silêncio fiel. Que Ela nos ensine a escutar o Espírito. Que nos ensine a dizer: "Faça-se em mim segundo a tua palavra."
E tu, Espírito Santo, alma da Igreja, vem!
Desce sobre esta assembleia conciliar,
sopra nos corações dos fiéis,
renova a face da terra!
Veni, Sancte Spiritus! Veni per Mariam!
Assim seja. Amém.