HOMILIA DO PAPA BONIFÁCIO III
Santa Missa Pro Ecclesiae com o Colégio Cardinalício
Capela Sistina
13 de julho de 2025 - 14h
Amados irmãos Cardeais, Bispos, Presbíteros, Diáconos.
Aos pés da cena do Juízo Final, onde Miguel ergue a balança e o Cristo julga com justiça perfeita, nós hoje nos reunimos, diante d’Aquele que é Juiz dos vivos e dos mortos.
E é neste lugar, onde o sopro do Espírito Santo ainda vibra na memória dos frescos e nos corações dos eleitores, que elevamos ao Senhor a primeira Missa do nosso pontificado. Não como conquista, mas como ofício que fui chamado. Não por mérito e sim por graça.
E se os Céus se abriram outrora para revelar a Jerusalém celeste, como escutamos na primeira leitura do Apocalipse, hoje se abre também diante de nós o tempo da responsabilidade: não um tempo de invenções, mas de restauração; não um tempo de reformas dissolventes, mas de recondução às fontes.
A Igreja de Cristo, fundada sobre a rocha de Pedro e edificada com pedras vivas, como ensina São Pedro em sua epístola, não é obra de assembleias mundanas, nem fragilidade de vontades democráticas.
Ela é Sacramento visível da graça invisível. Ela é esposa fiel e irreformável; é a coluna da Verdade, e não serva de ideologias efêmeras.
A Liturgia de hoje nos reconduz ao momento fundante: a proclamação da fé petrina. "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." Esta confissão, feita por Simão, não é fruto de carne e sangue, mas a própria revelação do Pai. E é sobre esta confissão, firme como o granito e viva como o Espírito, que o Cristo edifica a Sua Igreja.
Caros, esta pedra não pode ser removida, nem substituída por areias progressistas.
A tradição apostólica, recebida, transmitida e selada com sangue ao longo dos séculos, não é obstáculo ao Evangelho, mas seu alicerce.
Desprezá-la em nome de “novas hermenêuticas” é como arrancar os alicerces de uma casa e esperar que ela permaneça de pé.
É necessário, pois, reafirmar com vigor: a Tradição da Igreja - viva, íntegra, coerente - não é um lastro antiquado, mas uma seiva que dá vida aos ramos.
Em tempos de confusão e ruído, ela é bússola segura. Em tempos de relativismo, ela é a régua do reto juízo.
Num mundo cada vez mais surdo à linguagem da criação, é dever deste novo Pontificado proclamar, sem temor, que a família - tal como Deus a instituiu - permanece célula primeira da sociedade e imagem real da comunhão divina.
Homem e mulher os criou; e desta complementariedade sagrada, nasce o dom da vida, dom inefável que deve ser proclamado sem temor.
As ideologias que intentam destruir o edifício natural da família não são frutos da razão iluminada, mas sombras do erro que recusam a própria Criação. Por isso, reafirmamos: toda tentativa de redefinir a família fora dos parâmetros estabelecidos por Deus é, em verdade, usurpação da soberania divina e violência contra o próprio ser humano.
A Igreja, enquanto Mãe e Mestra, não negará ao mundo esta verdade, ainda que lhe custe a incompreensão, o escárnio ou a perseguição.
Muito se tem gritado nos dias recentes: "A Igreja caiu! A Igreja morreu!" como se as feridas dos seus membros implicassem a ruína de sua Cabeça. Não! A Igreja não é cadáver em decomposição! É Corpo vivo de Cristo, purificado por Ele com a água e sangue saídos do seu lado, na Sua Paixão. E se o Senhor, em Sua justiça, permitiu que os inimigos fizessem ruído dentro de sua casa, agora, com mão firme, os expulsa, como outrora expulsou os vendilhões do Templo.
O tempo da confusão chega ao seu limite. E é necessário reconduzir o sagrado à sua dignidade. É tempo de Edificar! É tempo de silêncio e temor, não de banalidade e nem dos típicos espetáculos.
O mundo precisa ouvir a verdade. E o novo Pontífice não será um gerente de estruturas decadentes, nem animador de consensos estéreis. Será servo da verdade e juiz do erro.
E esta verdade começa por um chamado radical à conversão: não há salvação sem cruz.
Não há paz sem justiça. Não há unidade sem fé íntegra Na escuridão do mundo moderno - com suas tempestades éticas, suas noites ideológicas e seu frio existencial - ressoa a promessa eterna do Cristo: "Não vos deixarei órfãos." E hoje, como Pai que conforta seus filhos, Deus nos abraça.
Ele consolou a Igreja com a assistência do Espírito Santo neste Conclave e agora a conduz por um novo caminho de seriedade e mudança.
Este Pontificado que se inicia não é revolução, mas continuação. É continuidade do que foi verdadeiro em João Paulo IX. Mas agora, na graça que se renova, o Espírito suscita também um tempo de correção, de organização do que se corrompeu, de retomada do sagrado onde foi profanado.
Amados irmãos, a Igreja não se adapta. A Igreja sempre será a Igreja. É o mundo que se deve adaptar a ela e não ela que se deve adaptar ao mundo. Ela não segue o mundo: ela o redime e o ilumina. É tempo, pois, de levantar os olhos e ver que Cristo caminha conosco. A Igreja está viva, porque Cristo está vivo e as portas do inferno não prevalecerão!
E como Pedro, nós também somos chamados a confessar a fé com coragem: “Tu és o Cristo.” Este é o fundamento da missão que hoje me é confiada. E é com temor e tremor, mas também com confiança filial, que assumo esta cátedra.
Que São Pedro, da sua cátedra, me fortaleça. E que o Espírito Santo, que conduziu este Conclave, agora renove toda a Igreja, para glória de Deus e salvação do mundo.
Assim seja.