Carta Doutrinal "Conceptionem Immaculatam" | Dicastério para a Doutrina da Fé

                                      

DOM EUGÊNIO MARIA CARDEAL PACELLI
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
 CARDEAL DIÁCONO DI PAMMACHII SANCTORUM JOHANNIS ET PAULI
PREFEITO DO DICASTÉRIO PARA A DOUTRINA DA FÉ


A todos que esta lerem,
graça e paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

CARTA DOUTRINAL SOBRE A IMACULADA CONCEIÇÃO

I. Introdução

1. A fé da Igreja sempre reconheceu, com reverente admiração, a singular missão da Bem-Aventurada Virgem Maria no mistério da salvação. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a comunidade dos fiéis contemplou em Maria não apenas a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também a Mulher plenamente entregue à graça divina, “cheia de graça” desde o primeiro instante de sua existência. Esta convicção, amadurecida na liturgia, na devoção popular e na reflexão teológica, encontrou sua expressão plena no dogma da Imaculada Conceição, solenemente definido pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, na Constituição Apostólica Ineffabilis Deus.

2. Ao afirmar que Maria, por singular privilégio de Deus e em vista dos méritos redentores de Cristo, foi preservada de toda mancha do pecado original desde o momento de sua concepção, a Igreja não apenas reconhece a magnificência da obra divina, mas ilumina, ao mesmo tempo, a esperança da humanidade: aquilo que Deus realizou de modo perfeito em Maria antecipa a vocação última de toda criatura humana, chamada à santidade e à comunhão plena com Ele.

3. Diante da beleza e profundidade deste mistério, torna-se oportuno apresentar, de forma clara e ordenada, a doutrina referente à Imaculada Conceição, suas raízes bíblicas, seu desenvolvimento histórico e sua relevância para a vida espiritual dos fiéis. Esta Carta Doutrinal visa, portanto, oferecer um aprofundamento teológico que favoreça a compreensão e a vivência deste dogma, destacando sua íntima relação com o mistério de Cristo e com a missão da Igreja no mundo.

II. Fundamentação Bíblica

4. A doutrina da Imaculada Conceição encontra suas primeiras raízes na Sagrada Escritura, especialmente na saudação do Anjo Gabriel: “Ave, cheia de graça” (Lc 1,28). A expressão grega kecharitomène, que indica um estado permanente de graça, foi interpretada pela tradição cristã como um sinal de que Maria recebeu de Deus uma plenitude de graça desde o início de sua existência. Assim, o anúncio da Encarnação já aponta para a singularidade da Mãe do Salvador, preparada por Deus para acolher em seu seio o Verbo eterno.

5. Além disso, o Protoevangelho (Gn 3,15), ao apresentar a inimizade entre a serpente e a mulher, foi visto pela Igreja como uma profecia que encontra sua realização plena em Maria, nova Eva, totalmente associada à vitória de Cristo, novo Adão. Para que essa inimizade fosse absoluta, Maria deveria estar livre do pecado desde o primeiro instante de sua vida. A Escritura, portanto, ainda que não formule explicitamente o dogma, oferece os alicerces sobre os quais a fé da Igreja reconheceu a singular pureza de Maria.

III. Definição Dogmática

6. Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX, na Constituição Apostólica Ineffabilis Deus, proclamou solene e definitivamente o dogma da Imaculada Conceição. Ele afirmou que Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, foi preservada imune de toda mancha do pecado original por singular graça e privilégio de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo. Com essa declaração, a Igreja reconheceu oficialmente aquilo que já era crido há muitos séculos entre os fiéis.

7. A definição dogmática não introduziu uma nova verdade, mas confirmou, com a autoridade do magistério, a fé constante da Igreja. Ela reafirma o papel singular de Maria na história da salvação e destaca a iniciativa amorosa de Deus, que preparou sua Mãe para ser a morada perfeita do Verbo encarnado. Assim, o dogma ilumina ainda mais o mistério de Cristo e a grandeza da sua obra redentora.

IV. Conclusão

8. O mistério da Imaculada Conceição manifesta, de modo admirável, a harmonia entre a graça divina e a liberdade humana, entre a missão de Cristo e a cooperação de Maria. Nele, contemplamos a fidelidade de Deus, que prepara com amor e sabedoria cada etapa da história da salvação. A pureza original de Maria é, portanto, um sinal luminoso da vitória de Cristo e da dignidade à qual a humanidade é chamada.

9. Ao celebrar este dogma, a Igreja não apenas honra a Mãe do Redentor, mas também reafirma a esperança cristã. Maria Imaculada é o ícone do novo começo possível pela graça, o reflexo mais puro da beleza da criação restaurada. Que todos os fiéis, contemplando a grandeza deste mistério, encontrem nela um caminho seguro para uma vida mais santa, mais confiante e mais profundamente unida a Cristo.

Dado e passado na Prefeitura do Dicastério para a Doutrina da Fé, nos dias seis do mês de Dezembro no Ano da graça do Senhor de dois mil e vinte e cinco.

+ Eugênio Maria Cardeal Pacelli
Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé

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