HOMILIA DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO IX
SANTA MISSA COM O RITO DE ORDENAÇÃO PRESBITERAL
DO DIÁCONO HELDER CÂMARA ARNS
Basílica Vaticana - 10/05/2025
Queridos concelebrantes, irmãos e irmãs em Cristo,
querido Helder,
Hoje a Igreja rejubila. Um filho é ordenado presbítero. Um homem se oferece, como Isaías, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me!" (Is 6,8). A ordenação presbiteral não é uma chegada - é um novo começo. Um novo capítulo da tua vida de fé, de missão e de entrega.
Na Primeira Leitura, o profeta Isaías tem a visão do trono de Deus e sente-se indigno: "Ai de mim, estou perdido!" - pois viu a santidade e, diante dela, reconheceu a sua pequenez. A vocação sacerdotal nasce nesse mesmo lugar: não de uma autoexaltação, mas de um toque de graça. O anjo toca os lábios do profeta com a brasa viva. Também tu, Helder, foste tocado. Não com brasas, mas com o fogo do Espírito Santo, que te consagra hoje para seres boca, mãos e coração de Cristo para o povo.
Na Segunda Leitura, Paulo diz a Timóteo: "Reaviva o dom de Deus que recebeste." Esta é a exortação de hoje para ti, Helder: não deixes que o dom recebido adormeça. Reaviva-o todos os dias na oração, na Eucaristia, no serviço. O presbítero não é dono do dom, mas seu guardião. Paulo continua: "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza." E de facto, o mundo precisa hoje de sacerdotes corajosos. Não apenas nas palavras, mas na vida. Não apenas no altar, mas também na rua. Sacerdotes como tu desejas ser: pastores com o cheiro das ovelhas, profetas da ternura e da justiça, homens do Evangelho.
E chegamos ao Evangelho, onde Jesus nos dá o coração da missão presbiteral: "Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor." Helder, tudo começa aqui: permanecer no amor de Cristo. É esse amor que te sustentará nos dias de alegria e também nas noites de cruz. É esse amor que farás brilhar quando consolares um doente, quando abençoares uma criança, quando proclamares a misericórdia no confessionário, quando celebrares o Corpo e Sangue do Senhor.
Jesus continua: "Já não vos chamo servos… tenho-vos chamado amigos." O presbítero é um amigo íntimo de Jesus. Não por mérito, mas por graça. És chamado a ser confidente do coração de Cristo, a escutar como Ele escuta, a ver como Ele vê, a amar como Ele ama.
E, finalmente, escutamos este desafio tão próprio do nosso tempo: "Se o mundo vos odeia, sabei que a mim me odiou primeiro." O sacerdote não é chamado para agradar ao mundo, mas para ser fiel. Não para seguir as modas, mas para anunciar a verdade com mansidão e firmeza. Como Jesus, também tu serás contradição. Mas não temas: Ele venceu o mundo.
Querido Helder, hoje, pela imposição das mãos e pela oração da Igreja, serás configurado a Cristo, Cabeça e Pastor. Mas sê também, como Ele, servidor. Dá a tua vida - sem medo, sem reservas. Sê tudo para todos. Sê ponte, não muro. Sê irmão, não chefe. Sê profeta, não funcionário. Sê presença de Cristo, sobretudo onde Ele mais é esquecido.
E nunca te esqueças das últimas palavras do Evangelho de hoje: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros." No fundo, tudo se resume a isso: amar. Amar com o coração de Cristo. Esse é o centro do teu ministério. Esse será o fruto que permanece.
Assim seja.